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O sofrimento no trabalho motiva a uberização

Por Jefferson dos Santos Alves, advogado (OAB/RS nº 89.504), pós-graduando em Relações do Trabalho (UFRGS)

As relações no ambiente de trabalho se mostram degradadas na atual configuração dos sistemas de produção, os quais são aplicados de forma a buscar o máximo de produtividade das pessoas em detrimento da saúde e das próprias relações interpessoais, no trabalho e fora dele.


A utilização da competição entre os trabalhadores como meio de incrementar a produtividade leva a eliminação da cooperação e dos coletivos de trabalho, onde este pode ser acolhido e minimizar os impactos das cobranças do dia-a-dia laboral.

Nesse cenário o assédio moral se torna a face de um problema maior: o sofrimento no trabalho. Este ocorre quando o ambiente de trabalho se torna fonte de desestabilização do indivíduo, sem que este consiga verbalizar o que lhe incomoda ou identificar as causas de sua angústia em relação ao trabalho.


O sofrimento laboral pode se tornar, assim, um dos fatores pelos quais as novas relações de trabalho atraem tanto os trabalhadores, pois dispensam o relacionamento com pessoas da mesma empresa e com chefias imediatas, substituídas por ordens emanadas de um ente digital como os aplicativos de transporte tipo Uber.

Mesmo que tais modalidades de trabalho requeiram um aumento de horas laboradas e representem, na prática, a substituição das conquistas dos trabalhadores no último século – como a limitação da jornada de trabalho, intervalos intrajornada para garantia da saúde do trabalhador, etc. – os trabalhadores “uberizados” tendem a sentir uma maior satisfação em relação à sua atividade.


A inexistência de um “chefe” é o principal fator de atração dessas atividades. Os motoristas entendem que a “autocobrança” por determinado número de horas trabalhadas ou o estabelecimento de metas de rendimento diário em nada se comparam com a existência de toda uma cadeia de comando estabelecendo essas mesmas metas e cobrando produtividade.


O maior ganho dessas novas relações de trabalho seja, talvez, a solidariedade estabelecida entre os trabalhadores via aplicativos de mensagem ou mesmo pessoalmente. A inserção num grupo de trabalhadores que troca experiências, sugere melhorias ou formas de minimizar custos com os automóveis, etc., representa um ganho inestimável para esses trabalhadores, agora livres do sofrimento diário que o ambiente de trabalho passou a representar.

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